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Mídia alternativa debate desafio de sobreviver sem comprometer sua independência

Enquanto a grande mídia atua como um partido político e tem editorias inteiras pautadas pelos seus departamentos comerciais, a mídia alternativa aproxima-se da realidade inconciliável com os interesses desses conglomerados: o contexto de seu público. Esses veículos enfrentam agora o desafio da sobrevivência sem comprometer essa proposta.

Por Filipe Olivieri (especial para Democratize em 24/08/2016)

No domingo (21), representantes de diversos veículos de mídia alternativa se reuniram em mesa de debate na festa de 1 ano da Democratize. Na plateia, Aparecido Araujo de Lima (Cidoli), coordenador do Centro de Mídia Alternativa Barão de Itararé, perguntou aos participantes do debate qual seria o modelo ideal para sustentar a produção de conteúdo.

Em alguns desses veículos, como o Jornalistas Livres e a própria Democratize, os jornalistas atuam de forma voluntária e os custos são arcados pelos próprios integrantes do coletivo ou realização de crowdfoundings.

Para Victor Amatucci, da Democratize, o grande desafio é explicar para o público que seu financiamento é fundamental para manter a independência nas coberturas. “A gente precisa ensinar nossos leitores que sem sua ajuda outros terão que nos financiar e aí deixaremos de ter a abordagem que interessa justamente a eles”.

“A grande mídia não tem relação com seu leitor. A mídia independente depende dessa relação”, diz Patrícia Iglecio, do coletivo Vaidapé, que além de conteúdo para web mantém uma revista impressa e um programa de rádio comunitário.

Laura Capriglione, do coletivo Jornalistas Livres, propõe a criação de um portal que agregue conteúdo da mídia alternativa, modelo semelhante ao utilizado hoje pelo UOL. “Falta organização entre os veículos [da mídia alternativa] para criar um modelo sustentável”, aponta Haroldo Cevarolo, editor-chefe do Opera Mundi, que também propõe um modelo colaborativo.

Capriglione ressalta que o alto custo da mídia tradicional para produção de conteúdo decorre principalmente da necessidade de lucro dos empresários. “Jornalismo é caro? É caro porque tem que pagar o lucro do Frias, do Marinho e de um monte de executivo vagabundo”, explica. A jornalista já atuou como editora-executiva da Revista Veja, do Grupo Abril.

Estratégias diferentes

Nenhum dos participantes do debate diz ter encontrado o modelo ideal para monetização e testam estratégias diferentes, mas todos concordam que a única maneira para não comprometer sua linha editorial é envolver o público na questão do financiamento.

Marina Menezes, editora executiva do Nexo | Foto: Alice V/Democratize

Nexo Jornal aposta no modelo de assinaturas e irá restringir o acesso a seu conteúdo à partir de setembro, e descarta a possibilidade de veicular publicidade.

“Se [o público] quer um conteúdo mais livre, isento, equilibrado e confia nesse jornalismo [precisa] pagar essa conta, porque as pessoas precisam viver”, diz Marina Menezes, editora executiva do Nexo.

Ivan Longo, da Revista Fórum, discorda da venda de assinaturas por veículos da mídia alternativa, e diz que o ideal é explicar para o público o quanto é necessária sua colaboração. “É deixar claro que a gente precisa disso para sobreviver”, conclui.

Grande mídia

No início da operação comercial da internet no Brasil, a grande mídia também enfrentou dificuldades para criação de um modelo rentável.

Apresentamos o conteúdo do debate para Marion Strecker, co-criadora do UOL e diretora de conteúdo do portal entre 1996 e 2011 para saber sobre o surgimento e as mudanças da estratégia de monetização — que faz com que hoje o portal seja mais rentável inclusive que a Folha de S.Paulo.

“Era difícil fazer jornalismo na internet em 1996. Quase ninguém tinha acesso à internet no Brasil naquela época. A velocidade das conexões [eram precárias]. Empresas como a Folha de S.Paulo tiveram de prover acesso à internet, para prover conteúdo a um grande público”, conta Strecker.

Ela diz que com o passar dos anos o UOL deixou de focar apenas em publicidade e assinaturas, o que fazia desde seu lançamento, e passou a lucrar com a venda de produtos e serviços não relacionados ao jornalismo, como o UOLHost.

Strecker concorda com a proposta de Laura Capriglioni de agregar o conteúdo da mídia alternativa em um único portal para enfrentar o problema da monetização.

Filipe Olivieri é repórter pela Agência Democratize em São Paulo

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